Mas vá saber? – Reflexões de um (in)certo sobre criação, fé e o grande mistério

    


    Vivemos em um tempo curioso. Por um lado, a ciência avança, nos dá respostas, constrói foguetes, decifra genomas, cria inteligências artificiais. Por outro, o mistério permanece. A morte ainda é um enigma. O sentido da vida escapa. E a pergunta mais antiga de todas continua ecoando: de onde viemos – e para onde vamos?

    Eu, por exemplo, sou oficialmente ateu. Não creio em um deus com barba, trono e julgamento eterno. Tampouco me sinto confortável com a ideia de um pós-vida moldado por dogmas e rituais. Mas há algo que me incomoda profundamente: a possibilidade de que, ao fim de tudo, só reste o nada. O silêncio. O fim absoluto.

    Essa inquietação talvez explique meu fascínio por temas espirituais e religiosos, mesmo sem acreditar neles da forma tradicional. Existe, no espiritismo por exemplo, uma ideia que me chama atenção: a de que a existência não se resume ao mundo material, e que há formas de vida que transcendem o que podemos ver ou medir. Espíritos, anjos, demônios? Talvez sejam apenas nomes antigos para inteligências que ainda não compreendemos — como seres de um outro plano, uma outra vibração, um outro tipo de realidade.

    E isso se conecta com outra hipótese que, embora improvável, não considero absurda: e se fomos criados? Não por um deus como os descritos nas religiões, mas por uma raça infinitamente mais avançada. Um criador que, como nós agora fazemos com máquinas inteligentes, decidiu experimentar a criação. Se a humanidade não for extinta por guerras, doenças ou desastres, acredito sinceramente que chegaremos a esse ponto: de criar vida, talvez até consciência. E então... o que nos separará dos deuses?

    Talvez nada. Talvez essa seja a natureza do universo: um ciclo infinito de criadores e criaturas, de realidades sobrepostas, de multiversos onde tudo é possível, inclusive aquilo que hoje parece impossível.

    O que me falta para acreditar de verdade? Provas. E talvez esse seja o grande dilema: o que não se pode provar, exige fé. E eu... eu prefiro a dúvida. Não me sinto confortável crendo em algo que não consigo sustentar com evidência. Não por orgulho, mas por honestidade. Porque a dúvida, ao contrário do que muitos pensam, não é fraqueza. É coragem. É olhar para o abismo e dizer: "Eu não sei. Mas estou aqui, olhando."

No fundo, talvez a grande sabedoria seja aceitar que certas perguntas não têm resposta. Ou que, se têm, talvez ainda não tenhamos as ferramentas para compreendê-las. E tudo bem. Porque há uma beleza no mistério, há uma força na busca — mesmo quando ela não leva a lugar algum.

    Mas vá saber?
Talvez estejamos todos certos. Ou todos errados. Talvez sejamos criadores em formação, ou apenas poeira estelar com pretensões filosóficas. Talvez exista um Todo. Ou talvez não haja nada além da dúvida.

    E, enquanto não sabemos... seguimos vivendo. Sentindo. Escrevendo. Refletindo.

    Porque, no final das contas, essa é a parte que nos cabe.

Reflexões de Julian SA

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