A Revelação de Matias, uma releitura por Julian SA

 

A Revelação de Matias

uma releitura por Julian SA

    Foi bem dito pela criança, através dos escritos de Julian, que por mais que a história das provações de Matias não tenha sido contado de forma fiel, e que mesmo assim o suficiente seria contado, muitos acontecidos foram omitidos. Muitos dos detalhes que Matias vira naquela experiência não haveria o porquê de existir em meio àquele romance. Talvez fosse chocar o leitor. Talvez o livro se tornaria grande demasiado e menos pessoas seria atingida para conhecer as andanças de Matias.
    As paredes de tijolos vermelhos cintilavam ao longe com o subir do vapor que exalava do solo quente. Era estranho: como em meio àquele fogo infernal, haveria de existir algum resquício de água para tremular o horizonte? A resposta era simples e nem ocorrera a Matias: em meio àquelas casas chamuscadas pelas chamas, haviam pessoas desventuradas queimando com calor, tendo a transpiração evaporando sob a pele em cinzas, enchendo o ambiente de vapor. O cheiro era de queimado e enxofre.
    O cheiro era de morte, de desespero, de separação, tristeza, sofrimento, solidão... além da energia que alimentava uma luz bruxuleante entre as incontáveis casas de barro, havia uma energia negra que embaçava, de vez em quando, os sentidos da única alma senciente daquele lugar.
    Julian não fora um narrador totalmente onisciente, ele não escreveu se não através das vistas de Matias e somente aquilo que viera à sua cabeça. Mas não, a história poderia ir muito além do que fora narrada. Realmente Matias não vira os demônios sussurrando aos ouvidos daquelas pessoas. Não, mas eles estavam lá. Riam, gargalhavam, ajudavam com as torturas se necessário, colocavam a corda em volta do pescoço nu da alma que por ventura esquecia de colocar. Em meio aos carreiros tortuosos, evitando virar comida, passava por Matias, criaturas titânicas de vários metros de altura, todas envolvidas por chamas amarelas e mortais. Talvez por baixo daqueles mantos demoníacos não houvesse estrutura alguma, talvez aqueles eram somente espíritos de fogo e de pura maldade, que desfilavam com pura soberba e totalmente despreocupados com os berros das pessoas no chão. Não emitiam som algum, a não ser o crepitar ensurdecedor de suas chamas.
    Matias em todos os dias se perguntava: “como um lugar como esse poderia ser criado para comportar qualquer pessoa?”.

Comentários