Buraco Negro, por Julian SA

 

Buraco Negro

por Julian SA

    "As setes maiores mentes que restou da humanidade, separadas em sete anéis errantes".
O coração de Lázaro pululava em seu peito, galopava como um quadrúpede desgovernado sob um soalho de madeira. Suas vistas estavam turvas, as laterais enegrecidas, via apenas o que estava no centro de sua visão.
    Ao longe o som do hidráulico da porta da praça de alimentação se abrira, emitindo o som agourento de despressurização. Nesse ponto, o som parecia a de um espírito maligno sugando a alma de algum desgraçado que ousara entrar em seu caminho. Mas não, não era um espírito.
“Laz, Laz, Laz”, guinchou o então descoberto serial Killer, com uma voz esganiçada, como se por fim tivesse encontrado o filho traquina que iria corrigir. Os passos ecoavam no grande salão de luz bruxuleante. O som de metal pesado arranhando o piso indicava que o louco estava carregando a arma que o mataria.
“Esse mundo é uma mentira, Laz”, disse o louco, fazendo estardalhaço com cadeiras e mesas. O coração de Lázaro quase saiu pela garganta, porém, o que saiu fora apenas um ganido baixo. Talvez o tenha escutado. “Esse mundo é apenas um conto de fadas. Estamos prolongando o nosso encontro com o Pai”, terminou, fazendo mais estardalhaço, dessa vez, mais próximo de Lázaro.
“Eu era apenas um zelador desgraçado, em uma instalação interestelar que há muito tempo perdera contato com as outras”. Lazaro acordou. Estava girando com um traje especial que o faria, em teoria, entrar em buracos negros sem sentir os efeitos físicos. Um zelador, apenas, o último humano daquela instalação em caos donde escapara de um lunático. Após séculos de evolução tecnológica e de usarem todos os recursos para formar uma pessoa que pensaria por todos, para cada instalação, não conseguiram controlar todos os males da humanidade.
Lazaro conseguira escapar por pouco. Agora girava como um peão em direção ao Arca, conhecido antes como Sagittarius A, o buraco negro no centro da Via-Láctea. Estrelas circundavam ao redor da estrela escurecida, em alta velocidade, como se fossem elétrons ao redor do núcleo. Ele, tão minúsculo, ao recuperar um pouco da noção, ofegou como se estivesse ainda na presença do louco assassino. Sentiu-se perante aqueles deuses de hidrogênio e hélio, alguém pequeno e frágil. Cairia na estrela morta logo, logo, antes de qualquer robô criando pelo Homem.
Caiu cada vez mais rápido. Antes de desmaiar, pensou em um mundo futurístico, em viagem no tempo... A escuridão caiu sobre si, fazendo par com o silêncio, sobrando ao coração apenas a esperança.

Comentários