Minha Infância
por Julian SA

E lá se tinham os molecotes, sobre a relvinha orvalhada. Alguns eram magrelos e raquíticos, outros viam-se de corpanzão em demasia para a própria idade. Mas do que isso importa?
Primeiro eram garimpadas boas toras das sobras de lenha, com a permissão do dono das estufas de fumo. Em seguida eram coletados os pregos já enferrujados e esquecidos ao paiol de algum deles. Os martelos e serrotes viam daqueles que pouco deixavam afanar nas mãos dos pedintes vizinhos. O engenho de tal obra era senão um par de gols. Meu Deus! Em tão tenra idade e já eram engenheiros da própria brincadeira!
Um adulto detinha-se de olhos com tal pureza e via-se na vontade de ter parte naquilo. Então ia-se a buscar um punhado de cal para que as divisórias da futura jogatina se formasse. Um dos pequenos vinha com ideia para atravessar linhas de tear para que as divisórias se tivessem retas. Um outro fazia bandeirolas com hastes de bambu e distribuía aos quatro cantos, tendo a flâmula feita de bolsa plástica.
O jogo viria a dar-se ao fim da tarde, quando o Sol estivesse enfraquecido. Durante o meio tempo, quem diria: os pequenos artesãos puseram-se a criar as taças da Copa.
Como imaginar que mãos tão pequenas eram capazes de moldar a garrafa pet em troféu? Meu Deus! A vizinhança estava diante, senão, de uma acirrada partida de futebol. A jogatina acontecia até que os olhos não conseguiam distinguir um palmo à frente. Logo cada um ia para a sua casa com suor, sujeira e muita satisfação, pululando de alegria, imaginando como seria a próxima vez.
Julian Silverio Americo
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